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Campanha da Fraternidade 2023: O amor de Cristo nos impele!

Prancheta 1

Por Jarlene Gomes

Com o início da Quaresma, a Igreja Católica nos convida a viver um tempo de conversão, marcado pela intensificação de algumas práticas que nos ajudam em tal propósito. Além disso, é também a época da Campanha da Fraternidade, que existe em âmbito nacional desde 1964 para nos trazer uma proposta de vivência comunitária da evangelização e da busca do bem comum. Nada mais propício para o tempo quaresmal do que viver bem esse espírito de fraternidade.

Toda grande festa carece de uma preparação, e a Quaresma é o período de preparação para a maior das festas, a Páscoa. Para celebrarmos a vitória da vida sobre a morte, precisamos de fato morrer para tudo que nos afasta de Deus e abraçar um projeto de vida que nos reconcilie com Ele. É justamente isso que esses quarenta dias nos propõem. Na verdade, os exercícios espirituais quaresmais não são exclusivos desse período; como bons cristãos, devemos praticá-los em nosso cotidiano e apenas reforçar seu desempenho em vista de uma boa organização para a memória do Mistério Pascal.

O Evangelho nos mostra (Mt 4,1-11; Mt 6,1-6.16-18) como devemos proceder para uma eficaz busca da conversão neste período: jejum, esmola e oração devem ser as práticas mais estimuladas. É necessário controlar nossas vontades, enxergar o outro com compaixão e fortalecer nossa relação com o Senhor se quisermos de fato nos comprometer com Ele. Tais atitudes nos ajudam a destruir em nós os apelos do pecado para, assim, não nos afastarmos de Deus. A conversão, o caminho de volta, é percorrido com exercícios constantes, que podem transformar pequenos gestos em grandes conquistas para nosso amadurecimento na fé.

Nesse ponto, cada um pode escolher os exercícios que forem mais eficazes para combater os pecados que comete. Para quem tem o egoísmo como principal problema a enfrentar, atitudes como partilhar o alimento com o necessitado, dar a preferência ao outro na fila e elogiar o colega em vez de vangloriar-se podem servir como verdadeiros remédios. Já para quem não consegue dar a Deus o louvor e o tempo que lhe são devidos, a oração e a Eucaristia são o melhor medicamento:

  • Acordar mais cedo para meditar o Evangelho do dia;
  • Ler um salmo no meio da manhã ou da tarde;
  • Participar da Santa Missa;
  • Ler um trecho dos ensinamentos de algum santo nos momentos em que normalmente assistiria àquela série ou se distrairia com vídeos.

Há outras práticas também eficazes, como:

  • Não comer doces e oferecer aos pobres o dinheiro que seria gasto comprando-os;
  • Fazer a pé um percurso que poderia ser feito de moto ou carro;
  • Comer sem reclamar uma comida que não abre o apetite;
  • Visitar alguém doente e levar-lhe um pouco de conforto.

Nem tudo é fácil ou instigante de ser feito, há situações que chegam a ser desagradáveis, mas que podem ser abraçadas como algo que nos tire dos momentos de conforto e nos lembrem que não somos deuses nem reis. Pequenas ações como essas, que não chegam a nos oferecer risco, quando oferecidas por amor ao Senhor, podem nos levar a alcançar vitórias significativas contra o mal que nos ataca. Esses pequenos gestos, além de nos aproximarem de Deus, também nos aproximam do outro e nos fazem ser mais irmãos.

Pensando na necessidade de conversão e considerando que ela exige de nós uma ação pessoal, mas também eclesial e social, a Igreja Católica presente no Brasil, por meio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), realiza todos os anos a Campanha da Fraternidade. Ela tem o intuito de nos fazer despertar para essa vida comunitária, cristã, fraterna, assumindo a responsabilidade por um mundo mais justo. O tema escolhido para este ano foi Fraternidade e Fome, e tem como objetivo geral nos fazer sensíveis à necessidade de enfrentarmos o flagelo da fome que atinge tantos irmãos e irmãs para que nos comprometamos a transformar tal realidade a partir do Evangelho de Jesus. São João Paulo II, na mensagem que enviou a nós na CF de 1979, disse que devemos “Dar mostras dessa conversão ao amor de Deus com gestos concretos de amor ao próximo”. O amor de Cristo deve nos impelir ao serviço em prol do outro (2Cor 5,14)

O que Jesus nos diz em Mt 14,16, “Dai-lhes vós mesmos de comer”, é um chamado a assumir nossa missão de evangelizar não só com palavras, mas com atitudes. A fome que mata tantos irmãos e irmãs não é só a de alimento, mas podemos resumir todas em uma expressão: fome de justiça. Quando falamos em dignidade das pessoas, precisamos considerá-la de forma integral, e isso implica a necessidade de temos políticas públicas que garantam uma educação e uma saúde de qualidade, bem como trabalho, moradia e todos os outros elementos que são direitos inalienáveis da pessoa e que existem independentemente das legislações, tanto nacional quanto estadual e municipal. Por isso é importante discutirmos esse tema. Não são apenas de ações tomadas em contexto pessoal – elas são necessárias –, mas também nas esferas comunitária, social e política. Não podemos reduzir a solidariedade a um mero assistencialismo.

Por fim, lembremo-nos do que nos diz o Evangelho de Mateus 25,31-46 e procuremos praticá-lo, pois a nossa missão só estará cumprida se fizermos aos irmãos tudo o que o Senhor nos indicar. Se quisermos que Ele nos reconheça quando vier em sua glória, devemos antes reconhecê-lo em cada pessoa que sofre. É o que o Pai espera de nós; somos responsáveis uns pelos outros, e essa responsabilidade deve nos levar a querer mudar a forma de enxergarmos o mundo e a sua organização para que, de fato, vivamos como irmãos. Amemos como Cristo nos ama; o amor de Cristo nos impele!